Profissional unicórnio
O mundo das exigências e expectativas em relação ao profissional perfeito, pronto para atender a todas as demandas de uma empresa, criou um interessante personagem de ficção. Mas ele não se parece com um robô humanoide dotado de uma programação capaz de milhões de cálculos por segundo e um perfeito equilíbrio entre inteligência emocional e racionalidade inabalável.
A história da qual este personagem faz parte não é sobre ficção científica, mas sim sobre ficção de fantasia. Este personagem está mais próximo de uma criatura mágica: o colaborador unicórnio.
Diferente das Startups Unicórnio - empresas privadas avaliadas em mais de um bilhão de dólares – o colaborador unicórnio é um termo ainda pouco disseminado e que carrega poucos atributos associados à realidade.
Quanto ao mito, o unicórnio, criatura etérea presente em diversas culturas do oriente ao ocidente, carrega significados que ao longo do tempo ajudaram na construção de um ser puro, raro e com poderes mágicos.
As figuras míticas carregam a infinita força da imaginação humana. Algumas delas são propagadas durante muitas gerações, por razões diversas e com tanta veemência que passam a fazer parte do imaginário coletivo como seres reais.
Sempre desejamos o incrível
Muitas crenças nascem de necessidades. Muitos seres mágicos e histórias fantásticas surgiram graças ao anseio de certos povos de compreender o que estava ao seu redor ou ao desejo de sentir-se protegidos por seres invencíveis e imortais.
E é muito possível que o colaborador unicórnio seja um caso como este: o reflexo de um mundo ansioso por produtividade, eficiência e perfeição.
No reino do LinkedIn, entre os castelos das corporações e às mãos de sábios conselheiros recrutadores, o profissional unicórnio divide opiniões. Mas longe de inspirar uma polêmica, já que a grande maioria dos profissionais de recursos humanos descarta a necessidade e contestam a viabilidade deste tipo de profissional numa empresa.
Segundo Juliana Grilo, recrutadora do Pecege, existem sim pessoas com capacidades múltiplas, especialmente nas áreas de gestão. Mas é contestável a sua eficiência numa equipe desempenhando múltiplos papéis com maestria.
Muitas vezes, os poréns de um projeto são evidentes ao olhar de quem está próximo dele, mas desde que desempenhe um papel de gerenciador e não esteja intimamente envolvido com o desenvolvimento da tarefa.
É contraproducente esperar que um colaborador seja ótimo em tudo. A noção de time, inclusive, exige que as pessoas desempenhem papéis distintos e complementares.
"Devemos evitar a prática da microgestão pela liderança, pois pode gerar uma desmotivação da equipe. A gente quer um time trabalhando junto, colaborando entre si e entre equipes, e todos desempenhando seu melhor. Um profissional com amplas habilidades pode suprir alguma demanda momentânea, mas o problema é o excesso e a exaustão, afetando o rendimento”, alerta Juliana.
Nada contra, mas...
É muito gratificante e enriquecedor conviver com pessoas que têm interesses plurais, seja na vida pessoal ou no trabalho. E sem dúvida um profissional com amplo conhecimento, cheio de curiosidade sobre temas diversos traz grandes estímulos e resultados a uma equipe.
O que é preocupante é a insuficiência que pode rondar as relações entre candidatos e recrutadores. A sensação de fracasso que envolve o desejo de ser um profissional unicórnio e o de encontrar um.
O conceito de colaborador unicórnio envolve o mito de um cavalo branco, que possui um único chifre brilhante, que realiza desejos e que, segundo algumas culturas, se alimenta de nuvens sob os raios de sol do entardecer.
As boas sensações que esta figura traz são muito bem-vindas. Mas aqui em terra, diante de um mundo corporativo que tem progredido em grande parte graças a processos e protocolos que buscam a eficiência, o profissional unicórnio será sempre muito querido, mas neste momento não é a obsessão dos processos seletivos.