Inovação: algum dia vamos nos cansar dela?
“Tudo o que poderia ter sido inventado já foi inventado”. Teria dito Charles Duell, diretor do Departamento de Patentes dos Estados Unidos, em 1899.
A afirmação é considerada apócrifa. Ou seja, não tem nenhuma comprovação de veracidade ou autoria e, portanto, pode não passar de uma lenda irônica.
Mas a ideia que ela traz é muito bem-vinda para que possamos pensar a respeito da nossa limitação em relação ao novo. É muito comum que consideremos estar sempre diante do limite do que pode existir.
Se Charles Duell tiver mesmo proferido estas palavras é muito fácil imaginá-lo fazendo isto enquanto organiza seus pertences para abandonar o trabalho e procurar uma nova ocupação. Possivelmente tristonho.
É muito provável que haja pessoas que se sintam mais tranquilas imaginando que nada de novo irá surgir para surpreendê-las. Lidar com o novo exige empenho e nem todos estão dispostos.
Convém tratar aqui, portanto, de pessoas que estão cientes da sua não ação como promotoras do novo, mas que ficam felizes em imaginar que alguém esteja fazendo isto. Por esta razão, a imagem de um Mr. Duell tristonho é mais adequada.
A inovação e o ser inovador
Termo utilizado em tantas ocasiões e de forma tão intensa, a “inovação” se desdobra para dar conta de tantas atribuições e não desabar em cansaço. Sempre parece estar no limite de suas forças. Mas resistir e se apresentar de uma nova forma está na sua natureza. Ela faz jus à sua definição. Ela pratica o que significa.
À frente da tarefa de manter viva a relevância desta palavra estão pessoas que por razões diversas sentem-se estimuladas a pensar que as coisas poderiam ser de outra forma e que têm um imenso desejo de compreender como tudo funciona.
Estas pessoas nem sempre têm propósitos claros em seus empenhos, mas acabam sendo recompensadas com descobertas de possibilidades que permitem ajustes de algumas engrenagens que aprimoram muitos processos, permitem a compreensão do mundo e a expansão do conhecimento.
Leonardo Da Vinci, em suas anotações sobre coisas que desejava fazer e aprender, registrou:
“Por que os peixes dentro d’água são mais ágeis que os pássaros no céu quando deveria ser o contrário, já que a água é mais densa que o ar?”
É muito provável que reflexões como esta tenham estimulado grandes avanços da tecnologia que nos serve hoje.
Visionário e executável
A inovação é parte do grupo de conceitos que norteiam o Pecege. E ela não é um suporte para a comunicação institucional. Ele é um preceito. Uma condição.
Entre o pioneirismo e a excelência nas ações de aprimoramento, tudo o que se desenvolve dentro do Pecege está ligado à inovação. Principalmente se livrarmos a inovação do peso da invenção – que é um conceito distinto.
A inovação pode estar perfeitamente presente em iniciativas que complementam outras já existentes e consolidadas ou que dão um novo sentido a elas. Não se trata de meras excentricidades, mas sim do extraordinário que faz sentido.
Seria necessário um material dedicado exclusivamente às iniciativas Pecege para honrar toda a produção que está diretamente ligada à inovação, e ele terá o seu momento. Por hora, é interessante trazer um exemplo à reflexão.
No ano de 2015, durante as aulas do curso do MBA USP/Esalq, uma das atividades que o Pecege operacionaliza, percebeu-se a necessidade de criar um meio de tradução e legendagem simultânea devido à procura de alunos estrangeiros pelos cursos.
Uma dupla de colaboradores iniciou um projeto de pesquisa e ficou encarregada de encontrar uma forma de tornar isto possível, pois ela não existia.
Luana Moro e Lucas Guerreiro, uma tradutora e linguista aplicada junto a um cientista da computação, se debruçaram diante dos modelos de aprendizagem de máquina existentes e apresentaram, quatro anos depois, a Skylar, uma inteligência artificial que hoje serve não apenas aos milhares de alunos dos cursos MBA como a dezenas de empresas de grande porte por todo o mundo. Tradução e legendagem ao vivo desenvolvida e viabilizada dentro do Pecege.
Assista à playlist do videocast FALA PECEGE sobre o tema "A IA TÁ AÍ" e acompanhe um pouco das discussões sobre Inteligência Artificial e como o Pecege tem lidado com ela.
Nas palavras de Luana “A inovação traz incertezas, traz riscos. E a grande virada é a recompensa dela dar certo”.
Uma reunião de séculos
Neste texto se encontraram Da Vinci, Charles Duell, Luana e Lucas para apresentar um elemento evolutivo que muitas vezes depende de estímulos relacionados às necessidades humanas e em outras são fruto de um ímpeto de estar à frente do que já se sabe. Ultrapassar barreiras dando um passo firme antes do seguinte.
Por volta de 1505 o primeiro mapa do mundo veio a público. Em 2012 a sonda Voyager ultrapassou os limites do Sistema Solar.
O ímpeto da inovação alimenta um mecanismo que consiste em compreensão, descoberta e expansão.
E nós somos movidos por isso.